CRISTANDAD: A BATALHA ESPIRITUAL
“-(...)
Fazei isso em memória de mim!”[0]
O padre Luiz Carlos está como assistente na
paróquia há quase dois anos... Jovem adulto, está em sua 20ª Missa e com o
espirito missionário à flor da pele.
Porte físico magro, com fisionomia jovem.
Cabelos lisos e curtos e olhos castanhos. Sua aparência, mesmo sendo comum,
provocou frisson nas jovens da paróquia quando iniciou seu ministério um ano
atrás. Porem sua índole bondosa e altruísta e seu zelo principalmente com os
mais idosos, o afastaram desta tentação que ele se orgulha de vencer a cada
dia. Sua formação foi tradicional e até então, não se interessou por nenhuma
ordem específica.
Estamos no momento da transubstanciação,
quando a caridade e o respeito ao outro, assim como seu amor a Cristo lhe
capacita a transformar a carne em pão e o sangue em vinho.
Ao segurar o cálice, nota que uma pessoa,
envolta por uma aura negra, se retira do templo.
Mas achando que era uma espécie de miragem,
desviou a visão.
Enquanto dois ministros distribuem as hóstias,
padre Luiz Carlos se perde em suas lembranças.
No fim da Missa...
-Que bela missa, senhor padre! Uma boa semana
para o senhor! - Luiz ouve de uma última fiel que se despede antes dele fechar
a igreja de arquitetura antiga.
Era a primeira da paróquia e durante muitas
décadas foi a igreja central. Porém, diante de templos cada vez maiores e mais
confortáveis, esta imponente igreja do século XIX de mantinha de pé a custas do
patrimônio histórico e de uma comunidade, mesmo que pequena, mas fervorosa.
Ao fechar a porta lateral próximo à nave
central[1], Luiz ouve uma voz masculina rezando intensamente.
Ele acompanha a voz e encontra no campanário,
um padre de cabelos curtos e vermelhos, vestido de hábito negro, ajoelhado de
olhos fechados e com as mãos plantadas na cabeça de uma pessoa caída a sua
frente. A imagem dos dois só era possível por um pequeno facho de luz que se
projetava no assoalho da antiga igreja.
- Ei você! A Igreja já está fecha...
De repente, um clarão se faz sobre as duas
pessoas em transe e dois outros seres, um brilhante e outro nas trevas, se
movem bruscamente pelos ares do escuro campanário!
Luiz tenta se proteger mas percebe que os dois
indivíduos sobrenaturais não afetavam o plano real, como se fossem dois fantasmas!
O fantasma iluminado apresentava uma armadura
azul celeste com detalhes em dourado como os cavaleiros medievais, com uma cruz
vermelha no peito e alguns tecidos brancos que flutuavam como névoas. Empunhava
uma espada dourada com dois símbolos cravejados na borda da lâmina: um touro de
um lado e uma águia no outro.
Na proteção do punho asas e no centro abaixo
do touro a cabeça de um Leão.
O outro ser tinha contornos vermelhos num
corpo escuro...
Enquanto o iluminado se confundia com névoas,
este se fundia com uma fumaça tão escura quanto o incinerar do enxofre. Possuía
partes em sua anatomia disformes como braços exagerados para o porte do corpo,
olhos que ofuscavam fogo dentro e uma presença bestial!
O brilhante defendia as investidas do braço mortal
do sombrio com sua espada, mas havia momentos em que o sombrio conseguia
segurar a espada e desferir poderosos golpes trincando partes da armadura do
cavaleiro que cambaleava a cada investida.
Luiz volta à realidade dos dois caídos ao chão
e ouve o trecho da oração do misterioso padre de cabelos vermelhos:
“-
Salvador do mundo, salvai-nos, vós que nos libertastes pela cruz da
ressurreição!”[0]
Rapidamente ele começa a acompanhar a oração:
“-
Nós vos Suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos
reunidos pelo Espírito Santo num só corpo!(...)
O misterioso padre abre os olhos e se espanta ao
ver Luiz se ajoelhar e por as mãos sobre o homem deitado ao chão.
O cavaleiro acaba caindo e o Sombrio o golpeia
com suas garras incandescentes.
Rapidamente o padre misterioso retoma a
oração:
“-
Fazei de nós um só corpo e um só espírito!!!”
Neste instante a espada do cavaleiro retorna à
sua mão e tudo brilha.
Com inúmeros golpes, mutila o ser sombrio! A
cada parte decepada o membro afetado desaparece numa fumaça negra diluindo-se
no ar.
Neste momento as orações tomam aspecto de fala
e resposta, com um Padre dizendo uma frase e o outro respondendo...
“-(....)Lembrai-vos
também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de
todos que partiram desta vida: acolhei-os junto a vós na luz da vossa face!”
“- Lembrai-vos ó pai dos vossos filhos!(...)”
O cavaleiro ergue a espada ao céu e a mesma
emana descargas ofuscantes.
“-(...)
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós!Cordeiro
de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós!Cordeiro de Deus
que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós! Cordeiro de Deus que
tirais os pecados do mundo... Dai-nos a PAZ!!!!!!(...)”
Ele desce a espada impiedosamente partindo o
sombrio em dois.
“_(...)Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada...mas dizei uma só palavra e serei salvo!”
O cavaleiro estende a espada para Luiz.
- Abra os olhos! Diz o misterioso padre.
Luiz abre os olhos e maravilhado olha nos
olhos do cavaleiro.
- Amém!
O cavaleiro se desfaz em fumaça branca deixando
um perfume de incenso e mirra.
O homem que estava inconsciente acorda e os
dois padres sorriem:
- Seja bem vindo à casa do pai! Ele te ama e
nós também! Cumprimenta o misterioso padre, ao fiel em suas mãos.
Luiz percebe que o mesmo homem que ele viu
sair no meio da transubstanciação.
Os três contemplam milhares de brilhantes flutuando
no negro véu da noite.
[0] - São partes da
Oração Eucarística
[1] - Parte onde fica o
Altar-mor em igrejas de arquitetura antiga.
[2] - Os símbolos dos
quatro evangelistas: A águia, O Touro, O Anjo e o Leão.
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